sábado, 26 de março de 2011

Frutas

Ontem o Globo repórter teve como tema alimentos orgânicos, seus benefícios, o mal que os agrotóxicos fazem na nossa alimentação e doenças que eles podem causar. Considerando os grandes malefícios e benefícios dos alimentos a principal questão é: Quantas frutas você comeu hoje? Essa semana? Quantas porções de verduras você come por dia? Quantos tipos de frutas você come por dia?
De que adianta falarmos em frutas e vegetais orgânicos se nem os com agrotóxicos estão tão presentes nas nossas vidas.  Eu vim para o Norte conhecer matérias primas brasileiras que nós simplesmente não sabemos da existência, e nem procuramos saber. Frutas, legumes, verduras que são de nós brasileiros e que europeus conhecem muito melhor do que nós. Em São Paulo fui procurar por uma semente chamada Cumaru (com aroma semelhante ao de baunilha), originária da Amazônia, mas impossível de se encontrar em mercados na maior cidade do Brasil, quando fui procurar na internet achei que essa semente já era usada há tempos no mercado de chocolates na França e na Suíça. Isso acontece com uma semente, mas com frutas (que são mais fáceis de ser consumidas do que sementes) acontece o mesmo, como é o caso do açaí, patenteado em 2003 por japoneses, antes mesmo de ser conhecido em todo Brasil (talvez exatamente por não ser conhecido em seu próprio país),  depois da moda do açaí no mundo a patente foi reivindicada, e o açaí volta para o Brasil em 2007, o açaí tem sites informativos até na França (http://www.acaiberryfrance.com/) , mas há  pouco tempo mal se conhecia ou consumia ele fora do norte do país.
Falo de frutas desconhecidas, mas presentes em nosso território e falo de abacaxi, acerola e goiaba. Todos conhecem, mas poucos consomem, tomar Tang de graviola não é consumir a fruta, é muito longe disso. Há não muito tempo eram comuns sucos de frutas na mesa e sobremesa de frutas em compota e cremes de frutas, hoje o refrigerante tomou o lugar dos sucos, e tortas e bolos a base de leite, gordura e chocolate tomaram o lugar das frutas. No dia-a-dia é cada vez mais difícil encontrar quantidades significativas de vegetais e legumes nas refeições, talvez uma ervilha enlatada misturada no arroz ou uns brócolis descongelados refogado com alho.  E mesmo com o slogan de 20 saladas diferentes do buffet por quilo na esquina do trabalho, a cenoura ralada no prato não consegue competir com as bolinhas de queijo fritas.
O globo repórter já deixou claro que comidas orgânicas são mais saudáveis, mas não serão substitutas de outros vegetais, serão substitutas de tortas holandesas, batata frita, bolinho de arroz. Se for para mudar que troque as tortas de frango por saladas orgânicas, e não só aquele único pé de alface que é consumido por semana, por um outro único pé de alface orgânico.
E se a troca não for apenas pela moda dos orgânicos? E se a troca for também por causa de nutrientes, pela descoberta de novos sabores e pela valorização da comida brasileira? Minha troca foi a segunda opção, vim para o norte buscar isso. Cupuaçu, açaí, bacuri, pupunha, taperebá, tucumã, muruci, ingá frutas orgânicas com altos teores de vitaminas e de origem e cultivo brasileiro. Que não são mandadas para outros estados do Brasil por falta de mercado, mas que são exportadas como polpa ou para medicamentos a base de elementos naturais.
Em grandes cidades brasileiras é possível achar algumas dessas frutas em polpa para suco (ótimo modo de começar a consumi-las), em cidades menores há produtores menores com frutas e legumes da região, e normalmente mais saborosos, procure em feiras na cidade e fuja um pouco dos supermercados. Na busca de sabores novos, as sorveterias tabém são uma boa, a paraense Cairu já está no Rio de Janeiro( Rua Adolfo Bergamini, 149 Lj A – Engenho de Dentro), em São Paulo, Brasília e outras cidades tem a Frutos do Cerrado que agora chama Frutos do Brasil .
Aproveitando o assunto de frutas  essa quarta tem o lançamento do livro Frutas da Amazônia de Silvestre Silva, para quem quer dar uma olhada na diversidade imensurável que tem esse nosso país.


Mas lembrem de que sempre existe vitaminas de proteína, Centrum e para continuar com os mesmos sabores, sem muitas aventuras Mc Donalds.

sábado, 12 de março de 2011

Onde come um, comem seis

Dona Luiza veio a Belém passar uns dias, acordei cedo e ela já estava preparando o almoço. Molhando a carne para descongelar, jogando água fervendo em cima da carne, tudo que eu aprendi a não fazer na faculdade de gastronomia, qualquer um dos meus professores surtaria vendo um negócio desses, mas quem sou eu para questionar exímia cozinheira Dona Luiza, responsável pela maniçoba que faz metade de Capanema delirar, então eu só observei, como uma boa aprendiz.
Normalmente almoça só eu, a Alana e Dona Luiza, mas hoje tivemos companhia. O irmão de Alana estava de folga do trabalho e veio almoçar com a gente, Alana ainda não tinha chegado em casa quando uma amiga sua bate na porta, a Karina, que trabalha por perto e sabia que Dona Luiza estava em Belém, e veio almoçar também. Quando fizemos nossos pratos a Alana  chegou com Lorena, outra amiga. Dona Luiza parece adivinha, tinha comida para todo mundo, só não tinha lugar para sentar, mas isso é o de menos, na mesa, no sofá e em pé na cozinha, todos comeram felizes.
O cardápio? Uma coisa que não contei ainda é que Dona Luiza não é paraense, ela é paraibana. Mas veio pro Pará com 19 anos para casar, ficou e hoje diz que não quer mais voltar e que adora esse estado. Meio paraense, meio nordestino o almoço teve charque (carne seca) na manteiga, cozido de carne, caldinho de feijão, farofa e seu famoso feijão com jerimum. Tudo de lamber os beiços, colocando a técnica gastronômica no chinelo.
    O que sobrou do Charque na manteiga

Fiquei pensando o que faz uma pessoa se dedicar tanto a cozinha, acordar cedo para fazer o almoço, deixar de fazer “suas coisas” para cozinhar ou fazer da cozinha “suas coisas”. Ainda não sei bem ao certo, talvez seja a paixão pela comida e por sevir, e como toda paixão louca ou normal não tem explicação. Por enquanto só agradeço por existir pessoas tão apaixonadas por essa arte que transformam momentos do dia-a-dia, em eventos extraordinários.
Alex, Dona Luiza e eu, na cozinha

quarta-feira, 2 de março de 2011

Peixe frito com Açaí

Dizem que no interior do Pará não se come sem farinha e açaí. Um colega meu daqui preparou o almoço, fez arroz, feijão, bife e com o prato já feito viu que não tinha farinha, ele então largou o prato foi comprar farinha e me contando essa história disse que sem farinha ele não almoça. Aqui eu já comi açaí com açucar e farinha de tapioca, que parece uma pipoquinha, e hoje comi açaí com peixe frito.
Fui ao Ver-o-peso com essa intenção, almoçar açaí. Cheguei lá e procurei a barraquinha mais cheia, que normalmente são as melhores ou mais baratas e sentei, tentei fingir que era nativa, mas a moça que servia percebeu, acho que porque eu olhava para o lado pra ver como os outros comiam, se jogavam o açaí no peixe, se tomavam direto da cumbuca. Eles comem assim, alguns colocam açúcar no açaí outros não, alguns colocam gelo no açaí outros não e todos colocam limão no peixe, comem o peixe e tomam açaí com a colher intercalando, mas sem misturar no prato. Nove reais por uma tigela de açaí, um peixe frito, farinha de mandioca e gelo. O que achei interessante é que nos PFs (prato feito) que comi aqui tinha sempre uma jarra de água e um potinho de palito, para palitar os dentes (todos palitam os dentes, gente nova, velha, homem, mulher).
Almoço seguido de muita chuva, depois muito sol. Belém é a cidade com o clima mais previsível que eu já vi, todo dia faz sol e a tarde chove, de vez em quando chove o dia todo, então é torcer para que os canais não subam, e os dias que não chovem são raros, assim como os que não fazem sol. É só olhar para o céu para saber a previsão das próximas horas. O ar é limpo e o clima é bom, e nessa vida de marinheira, onde é doce o meu lar, deixo vocês com  imensidão e o mar de agua doce (paisagem de trás do Ver-o-peso).